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Adoro segunda-feira


Sexta minha amiga fez aniversário e comemorou numa roda de samba de raiz. Dancei, cantei muito, interagi com meu público alvo. Foi bacana.

O bom do samba de raiz, do Túnel Santa Barbara para lá, é que o numero de homens e mulheres mais ou menos se equipara. Alem disso, vi homem beijando homem, mulher beijando mulher, homem beijando mulher na pista, sem causar espécie.

Karla foi ao lançamento do meu primeiro livro, História Cruzada. Levei para ela o trigésimo, Fronteiras. Obrigada, Karla, por me apresentar ao lugar e aos seus amigos gente boa. Adorei. Uma outra coisa boa do meu final de semana foi a oportunidade de confirmar que algumas pessoas simplesmente não entendem que “se malandro soubesse como é bom ser honesto, seria honesto só por malandragem”. Mas estou conseguindo não ligar.

Sábado, encontrei num jantar uma jovem mulher, bonita, trabalhadora, que constrói com esforço e alegria uma carreira, tem amigos, gosta de festa, botou silicone, se veste bonita, se pinta bem. Apesar de tudo isso, ela atura um homem 23 anos mais velho mantê-la na fita num comportamento de gato e rata que o personagem Portnoy de Philip Roth classificaria de sadismo masculino. Por que mulheres guerreiras aturam homens se comportarem como garoto de 15 anos ? Segundo uma gostosa que conhece a mim e a essa amiga é porque o esforço de amassar barro, construir destinos faz com que algumas mulheres fiquem pouco espertas nos meandros do amor. Pode ser.

Marquei com Diego uma visita ao Museu da Vida. Ele não sabe, mas em 1997, uma equipe do Museu da Vida me pediu um projeto de pós doutorado para que eu me tornasse pesquisadora lá. O comitê científico que examinou o projeto o considerou literário demais e me negou a bolsa.

Eu já tinha, na época, alguns meus prêmios como roteirista de documentários militantes e livros diversos, incluindo um romance. Os cientistas não me quiseram, mas o Walter Avancini me convidou para integrar a sala de roteiristas que ele mantinha em cativeiro na Manchete e me tornei autora de telenovela.

Um ano depois, a Manchete quebrou e passei um tempo a pão e água, sempre cortando cana, até que a maré mudasse. A maré virou primeiro a meu favor, depois contra, graças aos meus muitos erros na avaliação de circunstâncias e pessoas.

Três anos de vacas gordas e quatro anos de vacas magras depois, a indenização da Manchete completou meu esforço de me livrar dos juros herdados dos meus deslizes de gestão de grana e pude comprar minha primeira casa.

De lá para cá, a cada dia, tenho zerado mais rápido meus erros graves, o principal deles o de não perceber a tempo quais pessoas cometerão erros graves para cima de mim.

Num breve balanço das oportunidades (amor, sexo, amizade, dinheiro) que já perdi na vida

considero que:

Perdi por ser eu mesma nas horas erradas, com as pessoas erradas. Por não ser eu mesma nas horas erradas, com as pessoas erradas. Perdi por ser eu mesma nas horas certas com as pessoas erradas. Perdi por ser eu mesma nas horas certas, com as pessoas certas, mas que não estavam a fim de ser elas mesmas por mim, para mim, comigo.

Fico pensando se alguma vez deixei de ser eu mesma com as pessoas certas. Espero que não. Para quem gosta de que eu seja eu mesma, mensagens, sugestões, reclamações, convites: inbox.

Por isso, eu gosto de segunda-feira. Acordo sabendo exatamente o que preciso buscar.

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