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Os momentos felizes


Admiro as pessoas que têm facilidade com o “Nunca mais”.

Nunca mais vou fumar.

Nunca mais vou beber.

Nunca mais vou me magoar com atitudes idiotas.

Nunca mais quero seus beijos.

Nunca mais falo com você, se você fizer isso ou aquilo.

Meu estilo foi, a vida inteira, admitir que podemos precisar de reconstruir pontes.

No entanto, existe em mim uma força tardia que é o “Agora, chega”. É quando acordo do transe que me permite fazer o trabalho que adoro como se o mundo do lado de fora não. Quando acordo do transe que me permite amar pessoas sem precisar aprová-las. Aí, eu saio cortando pessoas, situações, circunstâncias.

Antes, eu usava o “Agora, chega” em relação aos outros. Hoje, sei que eu gosto tanto de mudança que talvez precise dar um basta em características, escolhas minhas.

Este é o meu desafio atual.

Li uma crônica do Agualusa esses dias sobre casamentos, divórcios, advogados e funerais e fiquei pensando como é perigoso interromper o transe de escritores. Porque a única coisa que a gente ganha de verdade na vida são aplausos e convites. Em resposta aos nossos transes.

Interromper o esforço de um escritor de se manter inocente na vida real é como interromper aos gritos o transe de um sonâmbulo.

Aí a gente se vinga. Criando situações e personagens que explicitam as crueldades pequenas, médias e grandes que nos afetam. Às vezes, se a sorte e as circunstâncias permitem, escritores também recriam momentos de transe nos quais viveram momentos que valeram muito a pena.

É bom ser uma escritora que recebeu da vida as duas coisas.

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