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Sem palavras


Bela pratica o Silêncio. Praticou o silêncio quase que a vida toda. Por amar um homem casado. Por ser mãe de um filho único praticante do distanciamento amoroso. Por preguiça de perder tempo enfrentando o preconceito, a inveja, a discriminação. Das pessoas queridas.

Sim, porque me ensina Bela, o melhor caminho para as pessoas se manterem queridas é não confrontar seus lados escuros. Falar muito sobre nossos sonhos e medos é a maneira mais rápida de deixar de gostar de pessoas queridas. Bela diz.

Mas para quem você ama, não conta tudo? Quase tudo, admite Bela. Quase. Conto para quem me acha bela. Tagarelando. Tirando a roupa. Rindo das gracinhas. Ou reclamando dos egoísmos. Contar quase tudo só para quem é completude. É raro encontrar completude. Ela encontrou.

Bela diz mais: só vale a pena sair do silêncio para quem mobiliza em nós a alegria.

Os queridos, os amados que nos entristecem, de vez em quando ou sempre, podem, talvez, ser movidos por bons sentimentos. A curto, médio, longo prazo nos enfraquecerão ou nos levarão para a guerra.

Isso me disse hoje Bela, me consolando com suas artimanhas dos meus tropeços com as palavras. A palavra deve se exibir só para aqueles que, de antemão, as aceitam.

A mim parece que Bela está certa. Devemos poupar de nossas palavras as pessoas queridas.

Porque as detestadas, a gente não deve nem chegar perto. A menos que seja para fazer o que Ayra Stark faz no final da sexta temporada de Game of Thrones. Pensando bem, Bela circunscreveu, poucas pessoas merecem vingança de verdade. Para a maioria das detestadas, o silêncio basta.

Minha amiga, meu Daimon, deve estar certa. Porque se ela continua amada e bonita é porque aprendeu a usar a palavra como sedução, acolhida, eventualmente, muito eventualmente, garras.

Quando eu crescer quero saber lidar de forma amorosa com o silêncio. O meu.

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