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Diário da Peste 8

English Game é o nome da série que comecei a assistir ontem por indicação de Douglas Tourinho.

A Peste está me ensinando coisas novas e consolidando aprendizagens do que intuía, mas não conseguia colocar em prática. Por exemplo, me conformar em me perder das pessoas. Me perdi de três pessoas já, nessa quarentena, acho que vou me perder de uma quarta. Entraram na caixinha “Pessoas a se cumprimentar com efusão em eventos públicos”. São legais, são bacanas, mas reagem mal a minha atitude de procurar abertamente informação, opinião, partilha de opinião. Ficam constrangidas de eu não corresponder ao protocolo delas. Preferem ter contato com pessoas como eu em fila de autógrafos, o que posso fazer. Ou na fila de pedidos de emprego, cesta básica, atendimento de emergência. O que, felizmente, não preciso no momento.

Acertou quem leu até aqui e identificou meu comportamento de não perceber esses códigos a tempo como “atitude de pobre”. Eu tenho e terei para sempre, temo, comportamentos de buscar por vínculos, simpatia, atrito, mais do que os bons modos recomendam. Nessa vida, já era. Não é por falta de ler Nilton Bonder ou Alcio Braz . Eu leio. Simplesmente está acima das minhas forças. Quando dou por mim estou partilhando na fila o que aprendi, o que faço, penso, partilhando minhas dúvidas.

Existe no meu caminho uma impossibilidade. A de interagir com as pessoas “a se cumprimentar com efusão em eventos públicos”. Com quem lida com os diferentes que estão dentro do seu território. Os outros são levados, com educação e sutileza, a se sentirem inoportunos. No mínimo. No máximo, serão tratados na base de “coloquei um pobre no meu carro”, conceito que aprendi já não me lembro com quem.

Só que chegar perto do “diferente” que está no próprio catálogo não é saber lidar com a diferença. Ou estou enganada?

Isso é uma crítica, evidente. Mas é um pouco de autocrítica também.

Por que esmerilho meu coração buscando vínculos não solicitados?

Respondo: por lerdeza ou por desejo. Demoro a perceber que o vínculo é impossível. Desejo o vínculo impossível.

Ao contrário dos guerreiros de English Game, faço parte daqueles que precisam explicitar engrenagens para suporta-las. Para que os guerreiros, os pedintes ou hipersensíveis (como a personagem Margareth Kinnaird na série)sejam entendidos por mim. Só assim posso tira-los da minha vida e coloca-los nas minhas histórias.

Miles Davis disse: a primeira obrigação de um artista é satisfazer a si mesmo.

Não tenho salvação, não é, Douglas?

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