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Errata

Eu, provavelmente, li John Steinback em excesso. Isso deve explicar o tempo que levei para entender toda a dimensão das pessoas que só fazem o que bem entendem. Pessoas que, na vida, agem como Kathelen Stark. Ou como Cathy Trask. Porque em A leste do Éden ou nas Crônicas de gelo e fogo, pessoas foram fonte de inspiração. O mais difícil, eu acho, é entender a gradação. Porque uma coisa é alguém realizar o desejo. Como Tyron ou McNuty, em The Wire, realizam. Assumindo as consequências, se interessando pelos outros. Bem diferente é ser voluntariosa quando a vida de reféns está em jogo. Domingo escrevi aqui sobre minha tendência a não colocar meus interesses e sentimentos como prioridade. O tal beijinho no ombro para mim mesma. Alguma coisa me deixara enjoada, eu estava prestes a embarcar numa longa viagem. Talvez por isso o texto tenha saído mais pessimista do que eu me sentia. Mas, realmente, existe um grau de risco na atividade de escrever. Porque as pessoas que escrevem se expõe ao entendimento alheio. Não é apenas o não gostei. É também o atribuir ao escritor intenções que, ás vezes, nem passaram pela cabeça. Mas não faz mal, precisar partilhar sentimentos é uma anomalia que algumas pessoas sofrem, não conseguem viver sem. Deixar de escrever e com isso deixar de me arriscar seria o mesmo que substituir a escrita pelo confronto ou por comida ou cigarro. Pelo menos para mim. Hoje, assisti uma mulher jovem, bonita, talvez uma homeless, não sei, numa fala enraivecida contra um atendente da Starbucks. Depois, ela desistiu de falar com ele, pegou um quilo de café e ia sair, mas, talvez dentro de sua loucura, ela reconheceu que levar o café era roubo. Roubo igual cadeia, talvez tenha pensado, voltou, devolveu, pegou um copo de plástico, jogou no chão e saiu enraivecida. Assisti a um episódio de Girls no qual uma das moças, não me perguntem o nome, faz xixi na rua, num país em que a polícia multa quem faz isso. Ocorre que a moça discorda da multa, acha que a prefeitura deveria colocar mais banheiros químicos e rasga a multa. Revoltada, é presa pelos policiais opressores. Esperneando, é claro. Difícil saber se as pessoas agressivas são por sofrimento, drogas (ou a falta delas), falta de limites ou, simplesmente, perderam um parafuso em algum lugar da caminhada. Um dia, escreverei um livro sobre um personagem que acredita saber quais são as intenções, as dores, as características das pessoas de carne e osso. Talvez a maior das hybris seja acreditar ter o poder da adivinhação sobre o que se passa na cabeça dos outros, sobre o que é a vida dos outros. E ganhar dinheiro com isso. Como se fosse verdade será o título do meu livro. Ao contrário de tudo o que eu aprendi em Mircea Eliade. Só o Mito é verdade. Todo o resto é interpretação humana.

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