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Da felicidade e da preguiça

Renata mora em Vitória da Conquista. Comprou pela Internet meu romance Fronteiras e está lendo. Deu notícias. Como Fran, de Teresina, que leu, já comentei aqui, Estrangeira. Isso me deixa feliz. Acabo de retomar um caso de amor comigo mesma. Um livro está virando roteiro para um dia se tornar filme. Quantas vezes reescrevi o argumento? Várias. Quantas vezes pensei em fulano, beltrano, sicrano para os papéis principais, para criar a trilha sonora, dirigir? Muitas. O tempo que esperei valeu a pena porque o protagonista passou de uma pessoa que chora de raiva, escondido no banheiro, quando é ferido, para alguém que planeja cuidadosamente a desconstrução, por dentro e por fora, do que não vale a pena. Agora vem Andre Briesi e elogia o livro. Nada me faz mais feliz do que lerem e comentarem minhas histórias. Elogiar minhas pernas, meus cachos, dizerem que emagreci (mentira simpática), comer chocolate, fumar um cigarro ajuda. Darem notícias da leitura dos meus livros é o que me faz feliz de verdade. Conheço e convivo com todo tipo de gente. Eu gosto de gente. Hoje em dia, à certa distancia, não por causa das gentes e sim por causa de mim. Gosto, mas às vezes não sei muito como lidar. Faltou o manual de instruções. Uma pena. Enfim, se eu fosse agrupar em grupos, conheço: gente simpática (muitos), gente antipática (poucos), gente malvada (poucos), gente injusta (muitos), gente com baixa empatia (muitos), gente irresponsável (muitos), gente justa (pouquíssimos), gente sem lucidez (multidão), gente controladora, gente discriminadora, gente cega, gente avarenta, gente covarde. Gente egocêntrica que chega a doer de chegar perto. A maioria (eu inclusive) transita por mais de um grupo. Uma coisa que me ajuda muito a suportar a mim mesma e a suportar da maiorias das pessoas difíceis é a quantidade de histórias antigas que conheço. A de Herodes. Aquele sem escrúpulos de sacrificar crianças para afastar ameaças ao seu poder. A de Agamêmnon a quem o oráculos de Delfos disse: se quiseres seguir viagem, sacrifica tua filha Ifigênia. E ele sacrificou. Quantas vezes a gente fica diante desse tipo de encruzilhada? A de só seguir em frente com nossos planos, conceitos e preconceitos se sacrificarmos alguma coisa bem preciosa? A de Ulisses que só consegue voltar para os braços de Penélope e retomar seu reino quando se livra de todos os afetos secundários, invejosos, avarentos, injustos… Nefastos. Porque nos prendemos a pessoas assim? Não sei. Acho que, de primeiro, porque cruzam no nosso caminho, depois porque temos muita coisa boa em comum (também chamado amor, tesão ou amizade). E temos muita coisa ruim igual. Finalmente, penso que a gente se prende a pessoas que fazem sempre as mesmas coisas por costume, cumplicidade, egoísmo, preguiça. Preguiça de mudar de rumo. Preguiça de cuidar da nossa pele, nossa beleza, nossa saúde. Tenho alguma lucidez em relação à minha própria preguiça. Isso me faz feliz.

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