Diário da Peste 3
Nos últimos dias, tenho cometido erros de loquacidade com pessoas queridas que agem como querem e esperam que eu seja silenciosa, acolhedora, fofa quando interagem mal comigo. Ou talvez não esperem nada. Talvez queiram apenas ser ouvidas nesse momento horrível que estamos vivendo. Preciso muito praticar o silêncio e a escuta. Quem sabe assim mantenho o crítico interior sob controle?
Escrevo porque posso. Porque sei escrever o suficiente para expressar meus sentimentos. Escrevo porque sou contra fóbica. Explico. Eu tenho medo das pessoas. Quando pequena, minha mãe, uma mulher que não tinha medo, dizia de mim: “essa menina é fraca e abusada. Não aguenta com um gato pelo rabo, mas, volta e meia, enfrenta os outros”. Ela sabia o quanto pesava cada pessoa, muito mais do que eu sei hoje.
Com o tempo, descobri que meu medo é o medo de como eu reajo. Agora mesmo chorei de raiva do Trump ao ler um artigo do Domenico de Masi.
Anos atrás, fiquei magoadíssima quando descobri não ser lida nem pelos mais próximos a quem eu dava meus livros recém publicados. Quando mostrava meus originais e as pessoas não respondiam nem ao email, eu ficava mortificada.
Tive que aprender a não dar meus livros. Tive que aprender a não mostrar originais a não ser para os profissionais envolvidos no produto final. Isso foi muito duro. Mas é melhor que ficar na expectativa: e aí? Leu, gostou?
Como não parei de escrever, nem de publicar, a única explicação que me satisfaz é que mantenho a contra fobia. Para esmerilhar o medo de rejeição.
Nesse sentido, o Facebook é uma invenção maravilhosa. As pessoas não precisam ler o “textão”. Bastar curtir para quem escreveu ficar feliz.
Uma curiosidade: Como ficarão os casos de adultério e de paixões não assumidas nesses tempos de Peste? Os casados, os que amam seus iguais, mas socialmente não assumem... Como vão suportar ouvir Pablo Milanés: se é para morrer, quero morrer contigo?
Suponho que as pessoas terão que escolher entre o amor e a afinidade. Entre o amor e a opinião pública mais próxima. Para alguns, o amor é condição de vida. Para outros, viver é combinar. Para outro tanto, enfrentar a desaprovação dos mais próximos é quase igual à Morte.