Diário da Peste 11
Será mais fácil a Reconstrução – quando passar a Peste – para os seres humanos que cultivarem vínculos. Quaisquer vínculos. Pessoais. Ou Profissionais, como os Mariana Huet, Juliana Rizzo, Vera Versiani, Eclair Shop, Escola de Séries e tantos outros.
Tenho tentado perguntar a amigos próximos e distantes como estão levando a quarentena. Faço questão que eles saibam, os que tenho o número do telefone, pelo menos, que estou aqui com eles, por eles.
Tenho me inspirado também na memória dos meus mortos. Minhas avós que passaram pela pior dor, pior do que as pestes variadas que também enfrentaram. Minha mãe brutalmente punida por ser diferente, desde a palmatória aos sete anos para deixar de ser canhota. Meu pai tuberculoso cinco vezes antes da invenção dos antibióticos.
São tantos os mortos capazes de sobreviver às maiores adversidades, que eu conheci! O exemplo deles me ajuda, hoje, a lavar os efeitos da Peste sobre o meu ânimo.
Outra fonte de inspiração permanente: centenas de pessoas que lutam pela vida em situações muito mais difíceis do que eu enfrentei e enfrento.
Um fornecedor de serviços me passou uma mensagem ontem. Convocando para uma manifestação de um milhão de pessoas na Paulista pela a quebra da quarentena. Ele acha que essa manifestação vai acontecer. Ele tem fé que vai sobreviver para marchar contra os que estão em casa em quarentena.
A Fé é uma coisa instigante. Eu também tenho fé. Com objetivos modestos. Ser poupada das dores que meus antepassados tiveram que suportar em vida. Aproveitar a Peste para me tornar um ser humano melhor. De preferência, aprendendo a calibrar a reciprocidade amorosa, uma lacuna na minha alma. Organizar minhas gavetas. Essa é uma tarefa quase impossível nesse período. Porque a peste vai acabar antes, querem apostar?
Uma fonte de ânimo permanente para mim, nessa quarentena, são meus amigos que publicando vídeos, poesias, brincadeiras. Fazem bem ao meu coração gregário.
Além desse Diário, claro. Se não preservarmos nossa saúde mental, quem fará isso por nós?