Diário da Peste 15
Gratidão, Memória e Fidelidade. Recuperei 12 anos, pelo menos, de mensagens eletrônicas. Eu recuperei, não. Quem recuperou foi o Lyns, do XSite ou Japa Soluções, não sei qual é a denominação pela qual ele é mais conhecido. Ele conseguiu converter minhas mensagens do Outlook de 2001 até 2013, mais ou menos, e ontem comecei a conferir as gavetas. Conferi 13 de um dos diretórios e parei. Fui ler “Deuses Americanos” do Neil Gaiman.
Memórias registradas são uma coisa estranha. Porque, não canso de repetir, a escrita é muito denunciadora do estado mental e do caráter das pessoas. Tesão, paixão, gaslighting. Ciúme, inveja, ressentimento. Tudo isso “pula” do texto e quando se lê – 15 anos depois – é de se pensar: como foi que não percebi?
Por que cito o Lyns hoje? Essa semana, ele recuperou, à distância, todos, eu disse todos, os diretórios do meu computador que, por algum problema entre o teclado e a cadeira, sumiram. Eu tinha o backup atualizado diariamente no time machine (por orientação dele) num hd exclusivo, mas não saberia baixar.
A tecnologia nos trouxe coisas maravilhosas e sou grata a quem me ajuda a lidar com ela. Trabalho, pagamos. Mas soluções rápidas e importantes num período de Peste? Não tem preço.
Graças ao acesso às mensagens, pude acompanhar à evolução da minha fidelidade. Fidelidade à minha natureza de estar o tempo todo “tecendo” projetos e sonhos. Fidelidade à minha condescendência em relação ao Gaslighting. Ao Ciúme. À inveja. Ao ressentimento. Fui condescendente (ou burra, as duas coisas se assemelham!) e me superestimei. Durante anos.
Só percebo isso hoje porque estou assistindo o noticiário, no máximo, dez minutos, ao todo, por dia. Lendo só manchetes e, no máximo, o lead. Mesmo assim, o que vejo, leio, escuto é as pessoas enlouquecendo os outros por Ciúme, inveja e ressentimento. Não estou preocupada se as pessoas que agem assim são ou ficaram malucas. Estou preocupada com o prejuízo para a minha saúde física e mental. Como disse o protagonista do livro de Neil Gaiman: na cadeia, você já tem a sua pena para puxar. Não pode carregar a dos outros.
Obrigada, Maurício, por indicar o livro, depois que detestei o piloto da Série. A ficção é mesmo uma coisa maravilhosa. Muito consoladora. Enquanto seres humanos forem capazes de escrever ficção, dá para ter esperança.