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Diário da Peste 16

Todos os dias, alguém que eu não conheço entra para fazer um dos cursos online da Escola de Séries. Será o esforço de aprender coisas novas durante a quarentena? Algumas vão para o curso de Ficção que deveria ser de utilidade pública, nessa época de Peste. Se as pessoas entendessem melhor o folhetim brasileiro sabendo onde, como e por que acontecem as viradas, não estaríamos vivendo a má ficção com que somos brindados todos os dias.

Procuram também o curso de Produção Executiva, Série Documental, Direitos do Autor. Isso me anima, já que o audiovisual exige um aprofundamento técnico holístico, se é que posso juntar as duas palavras.

Se as pessoas lessem e assistissem direito as narrativas inventadas, se espantariam, como me espanto, com a facilidade que se tem de acreditar cegamente em líderes. Começa na família e se espalha. Como a Peste.

A mãe fica de mal com o primo, todos param de falar. O pai torce por um time, todos seguem. A mãe, ou o pai ordenam não divulgar um estupro, ou uns tapas do namorado, marido, (às vezes da mulher, mulheres também batem) do tio ou do filho ninguém vai até a delegacia. A mulher brutaliza uma vizinha, o marido assiste e não abre a boca. O chefe humilha um técnico, os colegas fazem cara de paisagem. Empresas passam a perna no cliente ou consumidor e o dito cujo não processa, deixa pra lá.

Ninguém pergunta o motivo, se submete e pronto. Será que o Mundo inteiro é assim?

No fundo, no fundo, o que me dá a impressão é que, no Brasil, estamos sempre entre “A Bolsa ou A Vida” do assalto de diligência nos filmes antigos.

Deixo a vida me levar ou pego o touro à unha e exijo direito de resposta um a um? Vou decidindo caso a caso? Ou uso os recursos abaixo?

“cara de paisagem”;

“distanciamento afetivo não explícito” (aproveitando o distanciamento físico)”;

“não abrir post de fanáticos caros ao meu coração”?

Essas dúvidas são as minhas. Para os que seguem lideranças, a vida é fácil: Cortem a cabeça! Dos que discordam, dos que são diferentes. Como a rainha maluca de Alice.

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