Diário da Peste 28
Fiz uma live para a Escola de Séries na segunda, 20/04, sobre Storyline em livros, filmes, séries e só hoje escrevo sobre isso.
Porque perdi a maior parte do dia ontem com raiva de algumas pessoas.
A minha sorte é considerar o ódio perda de tempo. Por isso, só odeio três ou quatro. Fico com raiva de meia dúzia, mas minha raiva dura pouco. Minha raiva, então, não evolui. Cresce rápido, mas logo a substituo por outra, porque, nos dias de hoje, ficar com raiva, se a gente deixar, é coisa para o tempo todo.
Difícil mesmo é amar. Amar demanda esforço, cuidado e nossa tendência é para a inércia.
Amo meu trabalho. Amo tanto que penso que é um privilégio pagar as contas com algo que me dá tanto prazer.
Ontem eu e Ana Cecília trabalhamos numa história. Depois, outra amiga - guerreira que perde o “bofe”, mas não perde o samba - me ligou contando suas últimas peripécias e me dei conta de que até a raiva é desperdício.
Voltei para a labuta lendo trechos de Jorge Amado para preparar a próxima Live. Sobre adaptação de literatura brasileira para séries de TV.
Leio e assisto tudo estudando. Desde criança faço isso. Sou uma pessoa de processo. Desmancho a máquina narrativa que se coloca na minha frente. Depois monto de novo e sou capaz de criar a partir de um elemento solto da primeira máquina. Por isso, gostei tanto de fazer a Live de 20 de abril. Partilhar o “como fazer” foi legal.
A primeira pessoa que observou essa minha característica de precisar entender como as coisas são feitas enlouqueceu de raiva. Foi acumulando, passou daí para o Ódio, daí para o adoecimento. As raivas dessa pessoa eram todas justas, mas a Ira é pecado capital exatamente por causa do seu potencial destrutivo.
Histórias são antídoto para a raiva nossa de cada dia.
Contar histórias falando ou escrevendo. Contar piadas. Contar sonhos e pesadelos. Admitir que as pessoas interajam com nossas histórias. Algumas pessoas não gostam de interagir. Aí só resta a solidão. Raivosa.