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Diário da Peste 30

Existem pessoas que precisam do conflito para se sentirem protegidas. Afeto não interessa, dinheiro não interessa, apoio não interessa. As três coisas implicam em contrapartida. Quem dará afeto, dinheiro, apoio sem nada em troca?

Muita gente dá. Em várias situações, seres humanos dão afeto, dinheiro e apoio em troca de serem brutalizados. Está aí uma vasta literatura – de Homero a Nelson Rodrigues - comprovando isso.

Nos dias de hoje, fujo das pessoas que aberta ou disfarçadamente buscam o conflito. Tem mais. Já sou capaz de identificar o mais leve traço dessa característica. Quando ainda está “chocando”.

O que identifiquei?

O Mal chega pela certeza. Pela convicção de que o Outro está 100% errado, a pessoa está 100% certa. Daí é um passo para acreditar na obrigação de manter a raiva, primeiro, o rancor, depois, acesos. O tempo todo.

Se eu gostar muito da pessoa que está deixando esse bichinho do mal crescer, aviso. “Olha, isso que você está cultivando pode ser que, um dia, tome conta de sua alma”. Mas tenho que gostar muito. Aprendi nos últimos quatro anos, que as pessoas detestam ser prevenidas de que existe um lobo mau (interno ou externo) no caminho preferido delas. Ainda mais se o caminho for o mais bonito, o mais gostoso, o mais fácil.

A mim, palpites não incomodam. Se eu não concordar, não sigo. Escuto tudo, só faço o que eu quero.

Vocês pensam que estou falando só de contar histórias? Não. Estou falando também do ministro Sérgio Moro. Sei que muitos acham que os erros do Moro devem impedir o aplauso ao seu acerto de denunciar, na demissão, vários crimes de responsabilidade.

Existem pessoas que precisam da concordância total para elogiar alguém. Eu não preciso. Ele admitir o mérito da Dilma implica numa coragem enorme. Eu admiro gente corajosa. Mesmo quando discordo delas.

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