Diário da Peste 39
Sucessão
Todos os dias, quando constato que alguém que eu amo, gosto ou aprecio está se mantendo afastado da Doença Mental e não foi abatido pela Peste, dou Graças a Vida que tem me dado tanto.
Dois sintomas que assustam no risco de doença mental nos dias de hoje. A depressão paralisante e paranoia raivosa.
A pessoa para de sonhar, não aceita sugestões para daqui a três meses, não responde ao contato.
Passa a procurar briga com a própria sombra, cospe insultos escritos, manifesta que toda divergência “bate” como provocação.
Não sou psiquiatra, mas tenho a impressão de que doença mental é contagiosa como catapora, rubéola. Danifica os neurônios como a Covid-19.
Isso tudo para dizer que não gostei da série Succession. Quem gosta talvez não tenha lido Sidney Sheldon, escritor best seller norte-americano. Ele era especializado em escrever sobre o alto grau de psicopatia entre famílias multimilionárias nos Estados Unidos do século XX. Pode ser que não tenham assistido “Dallas”. Ou Boardwalk Empire.
Devo confessar que tenho um preconceito feroz com as palavras “família disfuncional”. Deve ser burrice da minha parte. Isso quer dizer o quê exatamente? Todas as famílias felizes se parecem, as infelizes são infelizes cada qual a sua maneira. Leon Tolstói disse isso.
As famílias felizes que eu conheço – poucas – são felizes graças ao esforço sobre humano de um ou outro membro em ignorar os esforços de três ou quatro de instaurarem a infelicidade.
Outra coisa: a série é uma tragédia shapeskeareana. Por que todos os personagens são “Ricardo III” de quinta categoria? Tenho dúvidas se a narrativa televisiva é o veículo certo para o gênero. Na tragédia, todos os personagens são tentados a se comportarem como canalhas, alguns resistem e, em geral, existe gradação. Essa é a graça. Quando ninguém presta...
Succession é um drama empresarial norte-americano com uma família um pouco pior do que as outras. Talvez seja pior. Talvez os roteiristas estejam fazendo caricatura.
Não gosto de escrever sobre o que não gosto. Por isso, vou parar por aqui. Desejando a todos contato virtual, exercício do contraditório e esperança.