Felipe Neto
Tenho um pouco de preguiça de entrar em polêmicas políticas nos dias de hoje. Mas eu gosto do Felipe Neto, então vamos lá.
Ele disse que “forçar adolescentes a lerem romantismo e realismo brasileiro é um desserviço das escolas para a literatura”.
Eu dei aula de literatura – realismo e romantismo – no Colégio Estadual Barão do Rio Branco. 48 alunos em sala de aula. Na época, meus alunos leram 70% da lista de literatura da lista da Unicamp. Um dia, um aluno me disse que “O Cortiço” era chato. Eu pedi que ele lesse em voz alta um trecho do livro. Era a cena de sedução da Pombinha pela prostituta Leonie. Ele e ficou escandalizado: “professora, isso é pornografia”. Não, eu respondi. Isso é erotismo, segundo a definição de Umberto Eco.
O MEC – desde de 2000, salvo engano – foi retirando a obrigatoriedade de ler literatura brasileira para entrar na universidade. As provas do Enem cobravam a compreensão de charges, manchetes de jornal, não mais os títulos clássicos. Isso, na minha opinião, se chama demagogia populista. É a americanização da nossa escola. Não ter uma lista obrigatória de títulos é o reforço ao individualismo exacerbado. Os controladores da educação pública acreditavam que os jovens não devem ser obrigados a estudar o que as gerações anteriores escreveram. Os jovens formarão opiniões próprias baseadas em suas preferências? Depois quando multidões imersas no analfabetismo funcional invadem o Capitólio ou votam em obscurantistas e anti democráticos em geral, os bem pensantes se assustam.
Ser obrigatório não significa “forçar”. Significa ensinar que na vida precisamos ter acesso à Enciclopédia Cultural que nos foi legada. Isso não é dever só, é direito. “Ah, mas eu não gosto de ler José de Alencar”. Paciência, faz parte da vida ser obrigado a fazer coisas que não gostamos para atingir metas.
A leitura dos clássicos brasileiros e estrangeiros não serve apenas para ensinar a ler, a escrever, a entrar na universidade. Serve também para suportar as “obrigatoriedades” da vida. Eu muitas e muitas vezes recorri ao meu repertório literário para suportar as adversidades. Se minhas heroínas superaram obstáculos, eu também superaria. Até hoje, a literatura, incluindo o romantismo e o realismo, não me traiu.
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