Angélica, a Marquesa dos Anjos
Gosto muito de ouvir vozes. Tem sido um sacrifício me afastar das pessoas que não buscam a minha voz como busco a voz delas.
Nos últimos dias, reli quatro folhetins que me salvaram, durante a adolescência, de submergir. Livros de capa e espada, romances históricos cheios de detalhes sobre a França e a realeza. Romances sobre uma mulher que era como a Fênix.
Na época, ii sem entender, claro. Como li o Rei Lear sem entender também o que estava lendo.
Não são livros tão eróticos quanto Sabrina, Bianca, Julia ou a coleção Bridgerton. Aliás, a série, por enquanto, é melhor do que o livro. São eróticos de outra forma. Gente apaixonada pela vida é afrodisíaco, não é?
Comparar Julia Quinn a Jane Austen é uma heresia, claro, que só pode ser cometida por quem não leu Jane Austen o suficiente. Não que seja possível compreender uma boa história lendo só uma vez. Seria como avaliar uma experiência de vida a partir de apenas uma interpretação.
Posso, no entanto, ser possível comparar Bridgerton, uma história masculina, com Angélica, uma epopeia feminina.
Um longo folhetim, milhares e milhares de páginas, sobre uma mulher forte, sedutora, frágil, batalhadora, resiliente, inconformada, submissa, traidora, inesquecível, rancorosa, vingativa. Nunca medíocre. Nunca cruel sem necessidade.
Hoje, rasguei papéis, escritos por mim, vários, criados por mim, alguns que correspondiam a alguns anos de minha vida recente.
Cheguei à conclusão, esse final de semana, lendo folhetins, que não vale a pena acumular lembranças que nos remetem às sombras. Disse isso para minha amiga Suzana hoje. Dizendo para ela, disse para mim mesma.
Dalai Lama teria dito que a felicidade ou é genética ou é treinada. O treino, para mim, precisa ser constante.
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