França e Estados Unidos
Assisti a três filmes no último fim de semana. Dois franceses. Intocáveis e Peter Von Kant (adaptação da peça e filme de Fassbinder). Amigos para sempre, norte-americano, adaptação de Intocáveis.
Eu gosto de observar o quanto a cultura se apresenta em boas obras adaptadas. No caso de “Peter Von Kant”, a história segue igual, mas o gênero da protagonista é trocado. Saí a mulher, entra o cineasta gay. A paixão, a obsessão, a trairagem, a humilhação permanente contra o mais fraco, todos esses fatores ficam. Porque mulher ou gay estão sujeitos a cair na dinâmica Narcisismo X Possessividade ou Exploração amorosa X Carência.
Em “Amigos para sempre”, fica a história, fica a amizade. E a cultura norte-americana entra com força total. No filme francês, o personagem que vem da periferia se transforma, mas continua sendo o que ele é, um cara que se vira nos 30, mais culto. A malandragem e o afeto engrandecidos, mas sem perder sua essência. No norte-americano, o negro periférico recebe seed money para se tornar um pequeno empreendedor e voltar para o casamento e a família.
A adaptação de “Intocáveis” me lembrou Juca Chaves: “quem te disse meu amigo, que o Brasil é lusitano, foi francês, agora digo que será americano...”. Os dois filmes não são “datados”, no sentido de que não dá para saber quem governa a França e os EUA ou quais são as questões programáticas a serem defendidos. Ponto para eles. Os pobres não são tratados de forma condescendente no francês, mas são um pouco no americano. Os americanos precisam “passar uma mensagem” – como nós brasileiros aprendemos com eles! –, então o filme se torna um pouquinho edificante. Aprendemos no filme americano o que é o “verdadeiro” amor, aquele que se preocupa com o que está na cabeça e não no corpo e somos poupados do magnífico diálogo entre o tetraplégico multimilionário e o negro periférico:
- O que eu posso oferecer a uma mulher? – Pergunta o rico.
- Dinheiro. Estabilidade. Carinho. Companhia. Filhos.- Responde o que já puxou cadeia e mora num conjunto habitacional.
Isso é cinismo francês ou é a vida como ela é? Eu conheço bons casamentos que têm bem menos do que isso.
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