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Quem não sabe se defender


Existem pessoas que percebem com um olhar mais ou menos demorado quem não gosta delas.

Existem pessoas que sabem quem é capaz de morder a mão que afaga.

Existem pessoas que sabem o que devem ou não devem falar para quem tem o ímpeto de confundir o portador com as más notícias.

Existem pessoas que são capazes de dar uma cotovelada no olho de quem é capaz de esbofeteá-las à menor provocação.

Existem pessoas que são capazes de retaliar grosseria, deslealdade, traição, ingratidão na hora em que essas atitudes brotam.

Esses são os seres humanos capazes de se defender.

Não tem a ver com força física ou de caráter. Às vezes, as pessoas não sabem se defender porque não enxergam. Outras porque superestimam as qualidades alheias. Ou ainda porque subestimam o quanto podem perder de alegria e força de vida.

Conheço pessoas fortes – na ficção e na vida – que não percebem e não resistem às pequenas maldades de quem amam, gostam, apreciam.

Eu dizia assim: não se chuta cachorro morto. Eu estava enganada. Não se fere um cachorro incapaz de morder quando atacado.

Quem me ensinou isso foi uma gata que nunca enfia as garras nos olhos de um jovem border collie bobão. É como se a gata medisse o que fazer para se livrar dele sem machucá-lo de verdade. Ela sabe que ele voltará a brincar com seu jeito idiota e sabe o quanto está disposta a aturar antes de afastá-lo soberanamente.

A gata é egoísta, é indiferente, mas não é maldosa. O jovem cachorro é amoroso, brincalhão, mas não aprende.

Os dois animais são capazes de conviver com suas diferenças. Muitos seres humanos não são.

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