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Samba

  • Foto do escritor: Sonia Rodrigues
    Sonia Rodrigues
  • 15 de jun. de 2015
  • 2 min de leitura

A semana passada terminou para mim com praia de dia e filme francês de noite. Ah, os telhados de Paris! Ah, homens que sabem dançar! Ah, aquele maravilhoso Omar Sy fazendo o papel de ilegal senegalês fugindo da polícia e seduzindo mulheres! Ah, o cinema cinema, não cinema literário ou cinema teatral cheio de palavras, o cinema de verdade! Ah, os problemas sociais tratados com crueza e leveza! Ah, o Omar Sy andando em movimentos lentos, em direção à câmera, em direção portanto à plateia, na minha direção! Agora sem brincadeira: além dos telhados, da pele de seda e do cinema, o filme é uma homenagem aos brasileiros, não ao samba, dança, mas ao charme dos homens brasileiros. Apesar de quê, a propaganda do Festival Varilux tem cada francês de tirar o fôlego. E um beijo na boca defendendo as cores da Air France que traz as lembranças das minhas vidas passadas, passadas em Paris. Meu domingo foi glorioso. O domingo me preparou para a sensação de plenitude com que acordei. Explico: Desde pequena tenho um método de resolver problemas iniciado com a pergunta: O que de pior pode acontecer se eu não me submeter a essa situação? Respondida a pergunta, eu avanço uma casa e me pergunto: Sou capaz de suportar a piora de contexto? Quando não consigo suportar, seguro a pemba e tento, tento apenas, não me sentir uma vítima. Nem sempre consigo porque às vezes sou vítima e me ressinto disso. Quando consigo pular a fogueira, vou embora, geralmente com a pele chamuscada. Sacudindo a poeiras das mãos e pronta para outra. Hoje acordei de décadas de gripe. Porque apesar da minha determinação em construir meu próprio caminho eu ainda não entendia o Faz de Conta da Emília. Verdade. Apesar de ler Monteiro Lobato desde os sete anos de idade, apesar de me debruçar sobre o Faz de Conta desde os nove. A frase da Emília: “se você faz de conta que uma coisa é, está claro que ela é. Se faz de conta que não é, está claro que não é. Simples assim.” Tem tudo a ver com o filme Samba. Minha gripe foi causada pela inversão da frase. Em vez de fazer de conta no que me beneficiava, superestimei pessoas e situações reais. Então, hoje acordei com a sensação maravilhosa de fim de gripe. Acabou a virose e eu, finalmente, me senti dona do Faz de Conta. Porque pessoas e eventos ruins ou equivocados não deixarão de existir. Sem a gripe que me fazia inventar qualidades e defeitos originais e inexistentes pude ver os obstáculos, as correntes de má vontade como hidras de Lerna. Como aves de penas de aço metafóricas. Como espirro da lama de onde vieram e onde chafurdam. Hidras a gente mata, aves monstruosas a gente destrói, lama a gente limpa. Se abrir mão de superestimar o que é apenas medíocre. É só fazer de conta que as pessoas ruins, as pessoas equivocadas, os obstáculos que provocam não têm poder sobre nós.

 
 
 

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