Diário da Peste 34
Diálogos Imaginários Sou viciada no que Bakhtin chamou de Diálogo entre Verdades. Como a Peste limita o contato pessoal e como as pessoas estão com os nervos à flor da pele, o abastecimento de meu vício está difícil. Hoje, dialogando dentro da minha cabeça com um hiper realizador a respeito de dois outros hiper realizadores, me ocorreu: Tudo o que atribuímos ao Outro (e a nós mesmos) é interpretação. Quando eu digo que alguém procrastina o próprio talento porque a vaidade é t
Diário da Peste 33
Escrevi o Diário da Peste, ontem na raça. Publiquei quase à força. Aí vieram os comentários de pessoas a quem admiro, fora as curtidas dos poucos leitores. E eu me senti recompensada por minha oscilação de humor durante a Peste ter tocado as pessoas. Hoje, 29/04, às 16 horas, farei uma live sobre adaptação de literatura para séries de TV. Eu e meus assuntos solenes de ex-menina Nerd. Eu já era assim antes da palavra ser assumida como conceito. Perfeccionista, comecei ontem
Diário da Peste 32
Nada Ortodoxa A Peste tem me deixado inquieta. Mais do que já sou. Fico observando os segredos da sobrevivência e tentando ser uma pessoa melhor. No meu caso, isso tem a ver com acolher minha própria ansiedade. Manobra-la. Não creio que consiga me livrar dela assim, sem mais nem menos. Quem se aceita mais, sobrevive melhor à pressão do isolamento? Às adversidades em geral? Acho que não. Aceitar o que somos não facilita a vida para nos poupar da dor, do fracasso, da perda. Ser
Diário da Peste 31
Jorge Amado Quarta-feira, 29 de abril, farei uma “Live” sobre adaptação de literatura para séries de Tv. A partir do livro “São Jorge de Ilhéus”, de Jorge Amado. Esse é um grande livro e, ao meu ver, subestimado. Assistindo, nos dias de hoje, séries como “The Deuce”, “Peaky Blinders” ou “Fauda” que são séries painéis de contextos sociais, me pergunto o motivo de “São Jorge de Ilhéus” não ter sido adaptada ainda. Existem várias maneiras de se adaptar livros de um autor que co
Diário da Peste 30
Existem pessoas que precisam do conflito para se sentirem protegidas. Afeto não interessa, dinheiro não interessa, apoio não interessa. As três coisas implicam em contrapartida. Quem dará afeto, dinheiro, apoio sem nada em troca? Muita gente dá. Em várias situações, seres humanos dão afeto, dinheiro e apoio em troca de serem brutalizados. Está aí uma vasta literatura – de Homero a Nelson Rodrigues - comprovando isso. Nos dias de hoje, fujo das pessoas que aberta ou disfarçad
Diário da Peste 29
Preguiça X Prazer Na quarentena tenho que fazer o que não sei, fazer mal feito e me afastar do que gosto. Sou a pessoa mais preguiçosa do mundo. Uma vez, minha filha caçula ouviu isso e comentou com uma amiga: tsk, tsk, minha mãe a pessoa mais preguiçosa? Imagina o mundo. Sou sim. Mas minha filha me assistiu escrevendo 35 páginas por dia para telenovela do Walter Avancini. Ou antes disso, fazendo mestrado e doutorado na Gávea e dando 12 aulas seguidas, no Colégio Estadual Ba
Diário da Peste 28
Fiz uma live para a Escola de Séries na segunda, 20/04, sobre Storyline em livros, filmes, séries e só hoje escrevo sobre isso. Porque perdi a maior parte do dia ontem com raiva de algumas pessoas. A minha sorte é considerar o ódio perda de tempo. Por isso, só odeio três ou quatro. Fico com raiva de meia dúzia, mas minha raiva dura pouco. Minha raiva, então, não evolui. Cresce rápido, mas logo a substituo por outra, porque, nos dias de hoje, ficar com raiva, se a gente deixar
Diário da Peste 27
Dano Moral Ainda há pouco, eu conversava com minha prima Alessandra ao telefone e concluímos que a adversidade (como a atual quarentena) funciona como as drogas estimulantes Potencializam o que somos. É como o amor. Apesar de que, para mim, amor é amor quando torna melhor as pessoas que amam. Amor que atiça defeitos é outra coisa. Tesão, obrigação, oportunidade de ajuste de contas de vidas passadas, sadomasoquismo psicológico (pior do que o outro que garante, pelo menos, orga
Diário da Peste 26
Quando a peste passar, eu: cozinharei arroz com aspargos, bacon e camarão para quem acredita que sou a melhor cozinheira do mundo; cantarei Odara na praia com o cantor mais charmoso que existe; vou falar e ouvir palavras de amor por, pelo menos, por dez minutos, uma vez por dia, sem falta; darei apenas 30 minutos do meu tempo diário para fazer cara de paisagem, fazendo “hum, hum” e acenando afirmativamente para gente que esquece as besteiras que faz. E Isso apenas nos casos e
Diário da Peste 25
No Brasil, nós temos a mania de acreditar que “roupa suja se lava em casa”. Isso combina com nossa mentalidade patrimonialista de que somos “donos” de qualquer pessoa, coisa, evento que esteja dentro do nosso quadrado. Nossa cultura faz com que mulher espancada diga que bateu com o rosto na porta. Empregados engulam assédio moral diário sem ir para a Justiça. Mulheres aguentem, sem ridicularizar e sem dar uns tabefes, piadas idiotas de colegas mais idiotas ainda. Clientes não