Beijinho no ombro (no meu)
É uma coisa bem gratificante trabalhar no que é nossa verdadeira vocação. Passei anos de minha vida administrando dores e fraquezas de pessoas em relação as quais eu me sentia mais forte ou mais preparada para suportar adversidades. Passei alguns anos tentando contribuir para projetos profissionais com pessoas que não buscavam minha colaboração, ao contrário, eu a oferecia. Fiz esses dois movimentos – dos quais não me arrependo – enquanto não me dedicava integralmente ao que realmente me faz mais forte. Contar histórias. Ser escritor (de romances, de séries, de filmes) é se expor à rejeição e a maioria das pessoas tem a sensatez de não procurar situações em que possam ser rejeitadas. A contradição é: acham chique escrever, inventam que desejam ser escritor. Não sei se escritores são os melhores professores de escrita. Nem acho que eu seja a melhor pessoa para ensinar a escrever. Sou passional demais, levo tudo muito a sério. Além disso, não acredito que todos aqueles que dizem querer escrever, queiram de verdade. Tanta coisa na economia criativa que poderiam fazer: editar livros, produzir peças, produzir séries, filmes, trabalhar no setor de desenvolvimento, ensinar sujeito e predicado, frase e parágrafo, literatura e cinema aos jovens de escola pública que o Estado deixa desassistidos. Ou que o Estado fracassa em assistir. Eu beijo o meu ombro. Porque sou eu que preciso ter uma vida longa, alguns anos, pelo menos, para assistir à minha vitória contra mim mesma.