Homeland e eu
Estou preparando dois cursos para a Escola de Séries. Dramedia e Soapy. Só os títulos já dão a dimensão da encrenca que estou me propondo a enfrentar. Dramedia e Soapy são tons de drama pouco explorados, no Brasil, em séries. Encrencas são estimulantes ainda mais quando envolvem histórias.
Faço parte do grupo de pessoas que aprende pelo conhecimento. Por isso, histórias são tão importantes para mim. Porque me ensinam. As histórias reais ou inventadas por escritores iluminam minhas experiências de vida.
Existem pessoas que aprendem melhor pela experiência.
Precisam vivenciar as situações. Drogas, sexo, amor, ódios tudo precisa ser vivido. O que não viveram, não existe.
O Tinder foi feito para essas pessoas, quando estão no modo “leveza”.
Na pior hipótese, no modo “pesado” são aquelas pessoas que gostam de comida e comem até ficarem diabéticas, obesas ou hipertensas. Ou obcecadas por objetivos.
Homeland mexe comigo porque é uma Character Driven Series com uma grande protagonista feminina que aprende pela maneira como processa o conhecimento, mas não tem medo (ao contrario, eu diria que tem fissura) da experiência extrema. Eu tenho medo da porralouquice. Da obsessão que ignora obstáculos.
Carrie Mathison é uma bipolar paranóica como ela só. Começa desacreditada por todos, mas acaba dando a volta por cima das adversidades, mesmo que leve uma, duas, três temporadas até a vitória. Antes de começar outra empreitada heróica. E de ficar desacreditada de novo.
Como ela consegue? Preservando algumas pontes. O trabalho e a família, basicamente. Ela é muito boa no que faz e não deixa de fazer para ir à praia, mete a cara. Ela é abusada com a família, mas não em todas as frentes de abuso.
Carrie me ensina (e as trajetórias reais de Stephen King e Steve Jobs também) é que não dá para ter um parafuso a menos e ser preguiçoso.
Ou gostar de transar adoidado e pedir em casamento cada boa transa.
Ou praticar a prepotência e querer aplausos sinceros.
Ou desrespeitar o afeto alheio e ter alguém esperando na pista quando se manda descendentes para casa de avião.
Apesar do meu bom sistema de freios internos (não preciso de casamento, grupos de amigos, religião me ditando o que fazer) consigo interagir bem com personagens um parafuso a menos. Escrevo bem esses personagens, me emociona quando outros os colocam na tela, convivo razoavelmente com os de carne e osso na vida real.
Desde que os personagens com um parafuso a menos não saiam derrubando pessoas sem relação imediata com a sobrevivência deles. Quer dizer, personagens e pessoas têm todo o direito de querer derrubar pessoas. Só não deveriam ter a expectativa de jamais receber punição.
O que eu gosto mesmo em dramas como Homeland é que ninguém, quando o mundo cruel apresenta a conta, espera que o oponente alivie. Isso se chama assumir as conseqüências do que se é, do que se faz, do que se deseja. Muito difícil.