Sexo, Mulheres e hipocrisia
A culpa nunca é da vítima.
No entanto, a cultura da parcialidade e da cumplicidade, existente no Brasil, colabora com o crime.
Sou a favor de penas rigorosas, sem atenuantes, para estupradores. E seus cúmplices.
A advogada Margarida Pressburger no jornal O Globo de 28/05/2016 ao se referir a menina de 16 anos estuprada no Rio: foi procurar a liberdade de amar quem quisesse nos braços de um facínora...
A mãe da menina disse que ela nunca se recuperou do trauma da morte do pai de seu filho, nascido quando ela tinha 13 anos.
Minhas perguntas sobre o recente caso ocorrido em Jacarepaguá são:
Aos 13 anos, uma pessoa de sexo feminino é uma mulher ou é uma criança?
Se é uma criança, deve frequentar bailes onde se toca músicas do tipo “vou socar a xota da novinha, mesmo se ela não quer, até arder, até ferver?”
Se é uma criança, deve, grávida de um traficante morto, ter o filho?
Se é uma criança, deve frequentar onde bailes que atendem pelos sugestivos nomes de “Noite do paredão”, “Noite sem calcinha”?
Se é uma criança, está liberada para usar cocaína e crack?
Do meu ponto de vista, aos 13 anos estamos falando de uma criança. Uma criança cujo cérebro não está pronto para drogas, cujo corpo não está pronto para gravidez.
Eu não acredito que uma mulher de 13 ou de 16 anos vai para um abatedouro numa favela carioca para exercer a liberdade de amar.
Penso que muitas mulheres jovens, nos dias de hoje, se acostumam a naturalizar música misóginas e violentas, se acostumam a considerar normal usar drogas, a ser tratadas como vagabundas por homens desprezíveis. Homens que esquecem que têm mãe e, um dia, terão filhas.
Parte da classe média carioca tem simpatia por promotores de bailes desse tipo, de músicas desse tipo. Esses formadores de opinião parecem que não sabem, ou se sabem não se incomodam, de que mulheres muito jovens (ou crianças, depende do ponto de vista) participem de bailes onde essas músicas terríveis são tocadas. Ou que se tornem escravas sexuais. Ou que sejam surradas. Ou submetidas a todo tipo de violência e humilhação.
Por que parte da classe média sabe de tudo isso (é só entrar no youtube, é só escutar as músicas) e não se incomoda?
Porque não são as filhas da classe média que estão escutando essas músicas e participando do paredão.
Os arautos da condescendência não precisam se preocupar com a péssima escola, péssima rede de saúde, com as músicas horrorosas.
Não são as filhas da classe média que passam por tudo isso.
A responsabilidade é só da classe média? Não. É da própria comunidade que aceita os bailes e as músicas e as surras em mulheres que não se comporta do jeito que homens jovens e violentos querem.
Há algum tempo, uma jovem de 18 anos morreu em decorrência de surra e maus tratos variados. Disse a imprensa, na época, que ela havia se envolvido com um miliciano, ou um PM. Marcaram o couro cabeludo da menina com as iniciais de uma facção criminosa. A respeito disso, nem um pio. Por que?
Na época, eu já ouvi de um jovem e talentoso morador de favela:
A polícia quer que a gente denuncie os caras que cresceram com a gente?
Já ouvi de uma jovem e bem intencionada moradora de favela:
As meninas do asfalto precisam seguir as regras dos bailes. Ou não vir para cá.
Já ouvi de um jovem e bem intencionado morador de outra favela:
Elas são “Maria Fuzil”, gostam de transar com os caras, eles até dão dinheiro para o táxi depois.
Não tenho nada contra mulheres gostarem de transar com homens que usam armas. Sou contra os homens usarem de violência contra essas mulheres. Ou tentarem transformá-las em seu gado.
Quem se omite frente a esse comportamento está estimulando que o Rio de Janeiro naturalize barbaridades como as que acontecem na Nigéria ou na Síria.
Crianças devem frequentar lugares onde se consome drogas pesadas misturadas com sexo explícito e armas?
A vida sexual dos outros não me interessa. Desde que seja consensual. Desde que não se drogue a mulher com quem está se fazendo sexo. Desde que não se use violência. Desde que não se divulgue o sexo individual ou em grupo sem consentimento.
Existe duas coisas que para mim estão longe de liberdade para amar. Pedofilia e estupro.
Adultos podem fazer o que quiserem e sofrer as consequências de seus atos. Crianças, não.
Vamos parar de ser hipócritas com as músicas misóginas e violentas.
Vamos parar de ser hipócritas com a idade do consentimento.
Vamos parar de ser hipócritas em relação ao uso de drogas por crianças nas favelas, a participação de crianças de favelas em festas de apologia ao crime e de apologia à violência contra a mulher.
Talvez se pararmos com isso, as coisas melhorem.