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Amor só aos iguais


Ontem assisti a um filme a respeito de como é difícil lidar com a intensidade, a maluquice, os estigmas dos outros. Indignação. Baseado em um livro que adorei ter lido. Escrito por Philip Roth que já me fez perceber tanta coisa.

Em geral, o que eu lei de ficção ou assisto me faz sentir como Ms Marple, personagem da Agatha Christie. Estabeleço imediata comparação com os muitos personagens e histórias que conheço no mundo real. Por exemplo, a mãe judia se referindo, no filme, à jovem com a marca de um corte no braço me lembrou Paulo Lins numa Flip ao lado de um ex-soldado criança de Serra Leoa: na favela, nós sabíamos de que família sairiam os bandidos.

Eu gostaria de, além de escritora, ser advinha como o Paulo Lins.

Não sei se gostaria tanto de além de mãe ter as certezas que a mãe judia tem no filme.

Deve ser bom também saber o que é melhor para os filhos adultos. Eu nunca soube o que seria melhor para o futuro amoroso dos meus filhos. Além de tudo, sou muito medrosa em relação ao carma. E se a gente interferir com os amores dos filhos e acontecer o que aconteceu com o protagonista do filme? Eu conheço mulheres que são como aquela mãe. Pessoas íntegras, legais, honestas, mas que têm medo que os filhos casem com filhas de casas onde existiu ou existe grande sofrimento.

O tempo todo me surpreendo como pessoas que não tratam as histórias como parte do mundo real sofrem de falta de lucidez. Quais são as casas ou as famílias certas ou sem sofrimento?

Tenho pensado muito, nos últimos tempos, em como sete, pelo menos, entre dez pessoas que eu conheço tem a alma Homo. Não é que sejam sexualmente atraídas por seus iguais. Não. Sete, em dez pessoas legais que eu conheço, gostam de conviver, partilhar, amar iguais. Quando essas pessoas têm o azar de se sentir atraídas por diferentes, sofrem horrores ou fazem os que têm intensidade, estigmas, maluquices diferentes sofrerem horrores.

Quem tem a Alma Homo em geral é homonormativo. É a minha versão de hetero normativo, a palavra que alguns gays usam para se referir aos comportamentos, códigos dominantes em nossa sociedade. Alguns jovens hetero também usam heteronormativo para designar o que os amigos gays deveriam enfrentar e não se submeter. Não sei se entendi bem, mas algo como um gay que trabalha no Itamaraty ir de saia cor de rosa para garantir que não está se submetendo à ditadura hetero.

Eu que convivo com gays, heteros promíscuos, adúlteros, criminosos, drogados, malucos, estigmadizados de vários matizes, desde que me entendo por gente, estou ficando cada dia mais cansada das Almas Homo com quem convivo.

É como se hoje só houvesse uma forma de amar, acreditar, pensar, odiar. E todas as outras não existissem. Ou estivessem necessariamente erradas. Sem apelação. Parece que as pessoas estão menos preconceituosas. É ilusão. Estão muito mais discriminadores e, o que é pior, sem nenhum pudor de demonstrar isso.

Nunca, em toda minha existência, conheci tantas Almas que só suportam os seus iguais, apesar dos discursos a favor da diversidade. Eu disse sete em dez pessoas? Pode ser que a porcentagem seja maior.

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