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Oscar


Histórias “batem” na alma conforme se aproximam das nossas. “Batem” mais se os roteiros as contam de forma competente. Trama desenvolvida com pertinência. Personagens bem construídos. Estrutura coerente. Ou talvez isso só aconteça com escritores que vivem impregnados pela ficção.

Elle é a história de alguém que vive com o júbilo possível. Sem gargalhadas, tirando das circunstâncias o prazer possível, lúcida, sincera até o osso. Responsável por suas escolhas. Zero de vitimização. Viva o feminismo francês, eu pensei para contrariar uma brasileira resmungando no cinema: premiar uma mulher que gosta de ser estuprada?

Moonlight me lembrou todas as pessoas desaprovadoras e controladoras da sexualidade alheia que conheci na vida. Como a mulher iwannabeavoter furiosa para excluir “Elle”. Moonlight me lembrou as crianças e jovens, gays ou não, negras ou brancas, que os adultos não protegem de seus pares violentos.

Fences, ah, eu conheci, ao vivo e a cores, pais severos como Troy e Rose. Ele com os filhos homens, ela com a filha. Pais que impõem suas ideias ao filhos, eu conheço em carne e osso nos dias de hoje.

O fato de serem pobres e negros piora a situação, mas a essência está na época. E nas características dos personagens. Ele é um homem que tem certezas, ela é uma mulher que negocia com as cartas que estão na sua mão.

Para mim, Fences é maior do Estrelas além do tempo. Porque as negras ali são super dotadas, famílias estáveis, bem preparadas intelectualmente, na área de Exatas. É mais fácil lidar com o preconceito com um Q.I nas alturas. Sem drogas. Sem pobreza extrema. Com pai e mãe cuidando. Quando a vida é menos áspera, vencer é mais tranquilo. Como disse Viola Davis, precisamos contar as histórias de pessoas que se perderam. Também.

Toni Erdman é Europa na veia. Segundo a Variety, a Paramount vai fazer o remake com Jack Nicholson no papel principal. Quero ver se eles conseguem manter o non sense na mesma proporção. Duvido. As culturas são muito diferentes.

Elle jamais ganharia o Oscar de filme estrangeiro. Ali existe uma forma tão inusitada de lidar com a tragédia, os personagens femininos são mulheres fortes, mas “doidas” com um despudor que o politicamente correto nunca aceitaria. Como podem mulheres santas e, ao mesmo tempo, vítimas dos homens agirem como agem nesse filme?

O melhor de tudo, no entanto, é que todos os roteiros citados contam uma história inteira em cerca de 120 minutos. Não são filmes de tese. A gente nem fica sabendo quem eram os presidentes dos Estados Unidos na época. Os recortes de jornal de Martin Luther King e John Kennedy estão ali de passagem. Se fossem escritos no Brasil, o respeitável público não escaparia de oito problemas sociais brasileiros sem relação direta com a história e um “Fora Temer”.

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