Prisioneiros
Constatei, de novo, que o amor não é para amadores. Assistindo ao filme “Una”. A história é como se fosse uma “Lolita” britânica. Uma história menos intensa, menos cruel, afinal, o autor não é russo.
Em mim, o que chamou a atenção é ser um filme a respeito do aprisionamento no amor. A pessoa ficar parada, trancada, aprisionada junto ao “eu amo você” ouvido um dia. A frase “Eu amo você” deveria ser proibida aos iniciantes e aos irresponsáveis. Os dois personagens do filme. Conheço de perto muitos aprisionados.
Porque a frase que se desdobra em perguntas difíceis.
Se me ama, porque me abandona?
Se me ama, porque me maltrata?
Se me ama, por que não satisfaz meu desejo?
Se me ama, por que me deixou errar?
Se me ama, por que não me protegeu do seu desejo?
Tenho dúvidas se a resposta sincera atenderia ao questionamento,
Abandono porque ficar não corresponde aos meus interesses.
Maltrato porque você não tem condições de revidar.
Não satisfaço seu desejo porque meu tesão acabou.
Deixei errar porque dava trabalho demais impedir seu erro.
Não protegi porque meu desejo foi maior.
A pergunta maior nem todo mundo tem a coragem de fazer, no calor da hora.
Por que você diz “Eu te amo”?
Digo porque essa é minha obrigação (como pais, filhos, parentes, casais casados).
Digo porque acho bonitinho (quando envolve beijos na boca).
Digo porque você não faria sexo comigo sem essa frase.
Um amador ou um iniciante corre sério risco de ficar prisioneiro do “Eu amo você”.
No filme, a prisão, física e metafórica, está relacionada à Pedofilia. Na vida de um bocado de gente está relacionado à péssima relação com a Frase.
Às vezes, as pessoas ao dizer a frase mágica não amam.
Outras, amam de maneira completamente diferente da pessoa que ouve.
Outras ainda amam, mas o tamanho do amor, a frequência do amor, não têm correspondência com a frase para quem escuta.
Amor acompanhado de abandono, assédio moral, estupro, pedofilia aprisiona com mais facilidade. Ah, dirão alguns, quem abandona, assedia, estupra a pessoa amada ou transa com meninas de 13 anos, não ama. Pode ser. Mas os prisioneiros se sentem amados, em algum momento, por isso caem (e ficam) na armadilha.
Os prisioneiros e seus algozes, conhecidos ou imaginados, me ajudam a criar personagens. Quando eu não me deixo enredar pelos amadores e os irresponsáveis.