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Boca de Ouro


A peça de Nelson Rodrigues está em cartaz no Sesc Ginástico, na Graça Aranha. Tem direção do Gabriel Vilela em grande forma. É puro Nelson numa montagem esfuziante, com uma trilha sonora intensa de arrancar lágrimas e risadas, cantada por Mariana Elisabestky, a maioria das vezes. Outras, pelo elenco inteiro num tom suave. De arrepiar.

A montagem está tão afiada, tensa, engraçada, que hoje precisei reler Boca de Ouro no Teatro Completo. Eu não me lembrava do quanto as frases são a de deixar boquiaberto qualquer um. “Ninguém é macho no Caju” protesta Leleco. E o tempo todo os atores, a luz, o cenário, o figurino trazendo a pungência do insuperável texto de Nelson Rodrigues.

Para mim, filha, é sempre marcante o quanto ele foi capaz de destacar a incoerência, a hipocrisia, a intensidade, os sonhos que existem dentro de cada ser humano.

Como escritora o que me espanta, quando assisto a uma montagem como essa, é a superioridade do Teatro sobre outras formas de contar histórias. Não sei se é porque coletivo. Tenho dificuldade de destacar alguém no elenco. Malvino Salvador como um surpreendente Boca de Ouro? Lavínia Pannunzio como a impagável Guigui? Mel Lisboa como Celeste (s)? Guilherme Bueno como grã-fina? Todos os atores me emocionaram. Se eu fosse crítica de teatro com certeza saberia falar bem de uns, talvez colocar defeito em outros. Mas como escritora e filha do escritor só posso ficar comovida, orgulhosa do Brasil ter um autor como Nelson Rodrigues cujo texto sobrevive a tantas intempéries. E do nosso país ter artista como Gabriel Vilela e sua trupe, gente capaz de manter vivo o lado circense dessa tragédia carioca.

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