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Diário da Peste 13

Respiração, Reciprocidade, Dignidade, Ambiguidade.

Hoje, acordei às 20 para às quatro, com medo. Parecia que era preocupação, mas era medo. Aí, no velho e arraigado hábito de tranquilizar a mim mesma, me propus: vou fazer 20 respirações profundas, se depois disso, não dormir, levanto e vou trabalhar um pouco. Dormi até 6:20, acordei com a musiquinha programada.

Fiquei feliz de ganhar duas horas a mais de sono. Pude acordar “alta”, característica minha que já irritou pessoas que acordam mal humoradas. Ouvi dizer que isso é uma doença. Uma forma de depressão. Atormentar quem acorda de bom humor para que o estado de espírito se iguale. Será?

Questão que me importa durante a quarentena: a dignidade. Fico confusa a respeito. É digno ficar longe de alguém quando você quer ficar perto? Se preocupar com alguém que não se preocupa em lhe poupar dos seus maus comportamentos?

A história de uma mulher que admiro muito reafirmou para mim o limite do que é digno e o que não é digno suportar por amor, tesão, amizade. O que nos vitima não é digno.

Muitas vezes, pelo menos do meu conhecimento, o papel de vítima está reservado aos que não exigem reciprocidade. Entre um beijo na boca de primeira e um discurso alucinado, o que alguém sem vocação para vítima escolhe? E entre quem goteja, com parcimônia, o afeto, a atenção, a lealdade e o direito de se sentir merecedor de tudo isso em porções justas? E entre uma pessoa possessiva, alucinada, controladora, rancorosa e a solidão? A primeira opção parece fácil de cravar, mas não é. Penso que o medo de solidão atormenta mais do que tudo. Nesse sentido, a Peste tem me feito colocar a recusa no papel de vítima como a principal fronteira para definir Dignidade. O que me vitima, não é Digno.

Ambiguidade é um complicador num momento como esse. De uma maneira geral, ambiguidade não faz bem a quem é alvo. Mas num momento em que a Morte está à espreita de todos, é bem enfraquecedor praticar e aceitar a ambiguidade. Num momento desses, é bom ter do lado, presencial ou virtualmente, pessoas que nos desejam alegres e fortes.

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