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Diário da Peste 25

No Brasil, nós temos a mania de acreditar que “roupa suja se lava em casa”. Isso combina com nossa mentalidade patrimonialista de que somos “donos” de qualquer pessoa, coisa, evento que esteja dentro do nosso quadrado.

Nossa cultura faz com que mulher espancada diga que bateu com o rosto na porta. Empregados engulam assédio moral diário sem ir para a Justiça. Mulheres aguentem, sem ridicularizar e sem dar uns tabefes, piadas idiotas de colegas mais idiotas ainda. Clientes não processem empresas que desrespeitam seus direitos de consumidor. Porque reclamar é coisa de quem não tem senso de humor. Ou defender posições dá trabalho demais.

O que mais me espanta no dia de hoje, é que pessoas aparentemente bem educadas achem normal uma autoridade ser desautorizada, fritada e a culpa é de quem é fritado. Por que não pede para sair? Por que não pede demissão? Não tem elegância para tratar disso intramuros? Quer aparecer?

É isso. Quem é espezinhado deveria só reclamar, baixinho, para só quem bate ouvir. Talvez devesse pedir, humildemente, não me persegue mais, por favor. E escutar de quem bate: não vou mais te bater, vou te demitir.

Anthony Fauci disse, nos EUA, que milhares de vidas poderiam ter sido salvas se o país deles tivesse fechado tudo mais cedo. Aqui, se um especialista disser isso, se for do governo, é demitido. Porque divergir “extramuros” no Brasil é crime de lesa majestade.

Obrigada, Ministro Mandetta, por ter resistido à nossa cultura do “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.

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