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Diário da Peste 31

Jorge Amado

Quarta-feira, 29 de abril, farei uma “Live” sobre adaptação de literatura para séries de Tv. A partir do livro “São Jorge de Ilhéus”, de Jorge Amado.

Esse é um grande livro e, ao meu ver, subestimado. Assistindo, nos dias de hoje, séries como “The Deuce”, “Peaky Blinders” ou “Fauda” que são séries painéis de contextos sociais, me pergunto o motivo de “São Jorge de Ilhéus” não ter sido adaptada ainda.

Existem várias maneiras de se adaptar livros de um autor que colocou sua arte a partir do mundo em que vivia. Uma das maneiras é atualizando a temática. Isso é fácil a partir do catálogo de histórias e personagens de Jorge Amado. O Estado Mínimo (ou quase inexistente em certas regiões) voltou a existir. Continuam: a prática predadora contra fornecedores de commodities; o descaso desses com os trabalhadores rurais e urbanos. as brigas familiares, essas eternas.

Fazer uma adaptação mantendo a época, é mais fácil? Talvez.

Durante muito tempo houve críticas ao tom “sociológico” da literatura de Jorge Amado escrita na década de 40. Por que? Pode ser que Jorge Amado contar das condições sociais de sua época melindre os que consideram pouco artístico esse painel tão vívido. Soa partidário.

A crítica a quem é partidário e a quem não é recebe influenciada pelas teorias em voga. Roteiristas não ganham para ser ou deixar de ser partidários. Ganham para contar bem as histórias. Isso talvez explique por que alguns têm dificuldade em escrever romances e séries. Muitas páginas sem poder exercer.

As séries estrangeiras citadas aqui são bastante partidárias. Dialógicas, porque nelas os pobres (os irlandeses, nem os judeus, nem os árabes) não são santos. São histórias contadas de um ponto de vista. O de quem escreve.

Na obra de Jorge Amado está pronta uma qualidade da cultura baiana: a de colocar o ser humano convivendo apesar das diferenças. Só isso explica o cafetão e o fazendeiro amigos na cadeia.

A Bahia tem muito o que ensinar ao Brasil. O problema é que o Brasil não aprende.

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