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Diário da Peste 47

Amargura Recreativa

Anjo da Guarda. Ou Sincronicidade. Para mim, a permanente vigilância do meu Anjo explica eu ter me deparado com a 50º pílula de “Acolhendo o indesejável” no sábado à noite depois de passar uma hora no Zoom tomando um vinho com uma pessoa querida.

Dei uma checada no Instagram (enquanto juntava coragem para lavar a louça) e me deparei com essa expressão precisa, tudo a ver: amargura recreativa.

Ficar falando mal das pessoas que merecem que falemos mal, mas só falar, só colocar defeito.

Sem boletim de ocorrência. Sem demitir quem não atende às nossas necessidades. Sem abaixo assinado. Sem dar baixa, no coração, na carteira, nas urnas. De que adianta reclamar dos outros e não fazer nada?

Essas medidas não foram sugeridas pela Pema Chodron, autora do livro, nem pelo Alcio Braz, leitor no Instagram. São sugestões minhas do que devemos fazer para não ficarmos na amargura.

Algumas pessoas entendem qualquer fala ou atitude mais direta como rudeza, agressão, impertinência. Gostam mais da sonsidão ou a indiferença.

Outras acreditam que têm o direito de pisar na cabeça de quem não faz parte da sua turma. Quem contraria seus interesses.

O que mais me espanta, no grande mundo que é o Brasil, no pequeno mundo que é meu entorno, é a lucidez zero. É a falta de percepção da iniquidade social brasileira. É a falta de noção de que o trato injusto pode ocasionar distanciamento permanente.

Essas atitudes, dia após dia, causam amargura.

A divergência aberta, direta, civilizada é melhor do que a amargura recreativa pelas costas dos outros.

Expressar opiniões e sentimentos é como só se deitar com a pia limpa.

Fazer a cama antes de sair de casa.

Deixar tudo claro. Com palavras e ações.

Parece bobagem, mas funciona.

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