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Belfast


O que existe de maravilhoso na narrativa, em especial a de ficção, é como ali se encontra a Verdade. Talvez seja o único lugar onde existe Verdade. Na ficção. Porque é uma realidade inventada bem diferente das mentiras que as pessoas contam para elas mesmas e para os outros.

Um bom filme de ficção mostra em 15, 20 minutos tudo o que precisamos saber sobre a qual o mundo o autor, o diretor, o diretor de arte, o figurinista, o fotógrafo estão se referindo. E de que ponto de vista. No caso de Belfast, o ponto de vista de uma criança no meio de uma guerra. Contra inimigos incompreensíveis que até o dia anterior eram apenas vizinhos, colegas de escola, objeto do primeiro amor.

O amor à família, o amor à Mãe que, numa família pobre, é completamente diferente das mães da classe média. Me senti tão consolada em ver aquela mãe a qual o menino se refere assim: “se eu fizer isso, minha mãe me mata”. Olha só o poder do feminino na Irlanda da década de 60. Mais ou menos como o poder matriarcal em Irajá na mesma época!

Ou o poder da mãe do Bochecha (ele contou isso numa entrevista) que o arrastou pela orelha, debaixo de chineladas, para devolver uma caneta subtraída da birosca da favela. Nada de entregar às gangues, aos maridos, ou ao mundo o dever de punir maus feitos.

Tenho pensado muito na diferença entre ficção profissional inventada e as mentiras. Será que os mentirosos não percebem o que dizem e o que fazem? Penso que, na maioria das vezes, não. Esse é o perigo. Só suplantado pelo o que atinge os que acreditam neles.

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