Moral dupla

Quem aos seus parece, não degenera. Está aí um bom ditado para se levar em conta ao escolher amigos e amores. Hoje, eu conversei - por iniciativa minha - com um velho amigo que é filho de uma família oficial e sempre desaprovou o pai adúltero. Ele me contou que passou na rua por uma ex-ficante clandestina e não a cumprimentou porque estava acompanhado da esposa. Em pleno século XXI, esse homem nega o cumprimento a uma mulher que se deitou com ele, nega para não conspurcar o santo matrimônio. Faz isso e conta. Para uma escritora. Faz sentido, todo mundo sabe que eu conto o milagre, mas não conto o santo.

Eu que sou filha de um homem adúltero e de uma mulher solteira – a que teve a sensatez de deixá-lo na estrada – fico pasma com o autoengano alheio. Ele acha que o adultério dele não é do conhecimento da esposa, dos filhos, dos vizinhos? Que inocência! A mulher deve ter chegado em casa e contado para toda a família, escondida dele, claro.

Não é o primeiro homem casado que vive pela moral dupla. A mulher de casa e a mulher da rua.

Nem o primeiro que se acha melhor do que o pai e faz igual. Existem muitos. O que me espanta – nos casos que eu conheço – é esses homens serem tirados a progressistas, avançados, defenderem ideias ditas arejadas. Só garganta!

Avançado foi Erasmo Carlos ao fazer uma música para Roberta Close. Os autores que escreveram Armação Ilimitada.

Pensar que Nora Ephron colocou Sally Albright para criticar Harry de ser um insulto ao gênero feminino só porque ele escapulia depois do sexo casual! Quem deseja acordar do lado de um parceiro de sexo casual? Existe coisa muito pior do que sair correndo depois de uma transa.

Parece que estou reclamando do meu velho amigo que se acha progressista, mas vai acabar igualzinho ao pai dele? Não estou. Acho até bonitinha a ingenuidade dele, "se achando".

Espero só que ele tenha a sensatez de não se envolver com mulheres vingativas - como a protagonista de Rensga Hits. Do tipo que cria canções em cima de cada palhada masculina.