Mulher infeliz
Eu fui apaixonada por um homem que era uma mulher infeliz. Eu já fui uma mulher infeliz, o que, por um lado, é um papel, mas também é uma vocação. Mulher infeliz é uma categoria dramatúrgica, não tem nenhuma relação com antropologia, sociologia, gênero. Homens hetero, gays, lésbicas, mulheres hetero, qualquer um pode ser . Basta colocar os interesses, os objetivos, os sentimentos dos outros acima dos nossos direitos e deveres.
É muito comum cair no papel Mulher infeliz por causa de filhos, de parentes, até de amigos. Ou por causa de convenções que é como se chama, em geral, normas e padrões de comportamento que nos prejudicam, mas somos compelidos a assumir.
É só conhecer um pouco a mitologia (ou a História) para identificar os arquétipos. Ulisses não era uma mulher feliz e se submetia aos deveres. Diferença? Não perdia a independência de propósitos. Heitor nunca foi uma mulher infeliz. O mesmo não se pode dizer de Pátroclo e Aquiles.
Helena (de Esparta, de Tróia) não era uma mulher infeliz. Catarina de Médicis não era uma mulher infeliz. Nem a filha dela, Marguerite de Valois.
De novo, não tem nada a ver com o sucesso pessoal ou político. Nem com correção de propósitos ou de métodos.
Ninguém é poupado das consequências do papel que assume. A diferença é que a Mulher Infeliz ou o Homem/Mulher Infeliz têm medo do que pode ocorrer. Ou tanta necessidade de aprovação que acaba se submetendo. Até alegremente. Achando normal.
Mulheres ou homens podem cair na esparrela. Por amor. Por dinheiro. Por emprego. Pelos filhos. É difícil perceber quando se começa a escorregar para dentro do buraco.
Magnífico! Já estive nesse papel, mais por amor, menos por emprego.