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Sumiços



Pensei em escrever sobre homens que somem. Em homenagem um amigo gay que sofre com isso. Em minha homenagem que já sofri com sumiços. Depois, coloquei a mão na consciência e me lembrei que não são apenas os homens. Muita gente some. Dos amigos, dos pais, eventualmente dos filhos.

A diferença talvez esteja em usar o sumiço com arma de desamor, de desapego. Como forma de se livrar do outro. Isso acontece, eu observo, quando existe sexo envolvido. Acontece mais com os homens. Mulheres depois de sexo bom tendem a querer mais. Alguns homens somem quase como num movimento de repulsa ao sexo. Não sei qual é o mecanismo que sexo satisfatório desperta na cabeça deles e os faz agir como Rapunzel. Na sacada, com o príncipe, às vezes princesa, gritando embaixo: Rapunzel, Rapunzel, jogue suas tranças.

Aliás, acho que tem muita gente hoje em dia com repulsa ao sexo, mais ainda repulsa à proximidade. Daí para a desqualificação de quem gosta de sexo e de proximidade é um pulo. A partir disso, o inferno é o limite. Quem gosta de sexo e proximidade caí na defensiva: onde foi que errei? Será que não sou boa/bom de cama o suficiente? Será que minha conversa é chata?

Quero, no entanto, falar de outros sumiços. Dos que somem por indiferença, descaso, raiva, vingança, rancor, divergência pessoal ou política. Com o objetivo de evitar briga, de prestar solidariedade aos seus pares ou familiares, ou para descartar profissionais que não servem aos propósitos... A lista é infindável.

Nesses sumiços, o prejuízo para a saúde mental, para o orgulho profissional, para a autoaceitação política costuma ser pior. Ou talvez eu diga isso porque trabalho e convivência amistosa sejam importantes para mim.

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