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The Bridgerton

Shonda Rhimes ensina muito na segunda temporada de Bridgerton.

Comecemos pelos homens conservadores. Homens do século XXI acham que escaparão de ser Anthony porque são modernos. Tolinhos. O que faz um homem ser como Anthony é levar oito episódios para entender uma mulher pela qual ele tem tesão, oito episódios para entender as palavras mágicas que manterão essa mulher na sua cama. Existem homens, hoje, que não aprendem.

Homens tipo Anthony Bridgerton podiam ser burros. São inteligentes. Podiam ser incompetentes no sexo. Não são. Podiam não saber deixar a mulher desejada louca para transar com eles. Sabem. O que eles não conhecem são limites.

O que a segunda temporada ensina à mulher poderosa, inteligente, sexy, como Kathany Sharma? .Mulher que não sabe esgrimir o silêncio numa relação amorosa perde o poder e a inteligência em dois tempos. Precisa saber falar, sem falar. Olhar impassível quando pergunta: você tem mais alguma coisa para me dizer? E quando falar, nas situações limites, falar o essencial: você vai me chamar para dançar? Ou: você quer parar (desistir frente aos adversários)? Inteligência e poder dependem de usar a palavra e o silêncio na hora certa. E levar oito episódios para agarrar um homem e tirar a roupa para ele. Isso é sexy.

Homens – especialmente os relutantes, conservadores, inflexíveis, mas não só eles – não entendem entrega no primeiro episódio, a menos que a mulher seja audaciosa no primeiro episódio e suma depois.

Do ponto de vista da narrativa, isso se chama evitar a “ejaculação precoce”. Série é série, protagonista precisa fazer uma trajetória, crescer, evoluir em alguma coisa para valer a pena acompanha-lo. Como o casamento é a história A dessa e das outras temporadas, não dá para resolver os conflitos morais, culturais, amorosos com pressa. Roteirista que tem a ambição de pagar seus boletos com o que escreve tem que evitar o prazer rápido ainda mais o prazer solitário. Existe outra pessoa na cama, digo na sala. A espectadora.

Quem não é profissional fica sem entender porque Kate não aceita a proposta de Anthony logo. Não poderia. Seria perder o poder de verdade. Que feminismo é esse que aceita qualquer coisa? Laranja madura na beira da estrada, está bichada ou tem maribondo no pé.

Ao mesmo tempo, se não escutasse a irmã (mais conservadora e sensata, o que é um direito dela, claro) acabaria turrona e sozinha. Mulheres turronas também evoluem. Pelo menos na série.

Outra coisa maravilhosa que SH ensina. A abandonar o livro a ser adaptado. A série é 350 vezes melhor do que o livro. A série deita e rola nesse abandono. Inventa personagens (inclusive a rainha). Expande a trajetória de outros. Melhora o sexo que é bem limitado nos livros (e li os oito). É soft porn sem muita variação.

Antes de escrever aqui me dei ao trabalho de ler algumas críticas. Eu nunca sei se alguns críticos falam bobagens porque não são escritores ou se é porque não se dão ao trabalho de assistir a série inteira. Um deles escreveu que o sentido oculto da sequencia no jardim é enaltecer o orgasmo clitorial porque na segunda temporada tem sexo oral e na primeira não tinha. Não assistiu direito, não é? Ou quer provar alguma tese contra o pênis. Razão tem o Vince Gilligan que disse não ler nada do que publicam na Internet sobre o que ele escreve.

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