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Sanatório de Bolso


Fui convidada a autografar meu livro “Fronteiras” e participar de um talk show no Congresso Brasileiro de Psiquiatria. O tema foi “Tragédia e Drama na escrita dos Rodrigues”. Na do meu pai e na minha.

No palco, os psiquiatras Antonio Geraldo da Silva e Euclides Gomes, eu e minha maravilhosa leitora, Brenda Leal.

Muito se falou de doença mental e da minha falta de preconceito contra a doença mental. Como poderia ter preconceito contra doença mental se recebi de “presente” uma das qualidades dos autistas? Oliver Sacks, em “Um antropólogo em Marte” compara a memória de escritores com a memória dos autistas. O registro da quantidade de vezes em que assisti pessoas com ou sem diagnóstico oficial serem discriminadas daria uma enciclopédia de pequenas, médias, grandes crueldades.

Minha memória registrada pela escrita em diários, primeiro, e em narrativas ficcionais depois me salvou de muitas armadilhas frequentadas pelos “normais’. Não de todas. Da psicofobia com certeza.

Evito “diagnosticar” pessoas ou personagens como doentes. Não acho que os “normais” sejam melhores do que os “doentes”. Penso que todos temos fragilidades e algumas pessoas ultrapassam as fronteiras de proteção e derrapam no caos mais rápido do que outras.

Os que têm mais resiliência ou circunstâncias favoráveis sobrevivem e constroem para si dramas ou comédias.

Os que nascem com, ou desenvolvem, buracos na alma, submergem na tragédia, se não forem socorridos a tempo. E socorridos com a desvantagem adicional de que é difícil determinar qual o caminho para resgatar do afogamento pelo sofrimento psíquico.

A escrita para mim é mais confortável do que a fala. Terei falado demais? Não sei. O que eu sei é que me senti tão confortável com os psiquiatras que farei em breve um curso online de Escrita Criativa para Psiquiatras. Vou “socializar” meu sanatório de bolso com os especialistas.

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